domingo, 7 de junho de 2015

''Atitude - Cada um no seu quadrado" Luiz Fernando Mirault Pinto - Físico e Administrador

Um cidadão de bem é esfaqueado em um ponto turístico do Rio de Janeiro. Um coronel responsável pela segurança na região é exonerado. Algumas pessoas se entristecem, outras indignadas, se revoltam. A mídia destaca a vítima como um médico, no entanto outros sete cidadãos comuns, também desafortunados, cujas vidas se desfizeram nas mãos de menores facínoras da mesma maneira que tantos outros foram protagonistas desses eventos rotineiros.
O debate sobre a violência, especificamente essa, gratuita, volta às discussões na busca de se dar uma solução para esse mal que assola o País. O assunto é complexo. Alguns acham que a raiz está na chamada maioridade penal. Para outros as penas são demasiadamente brandas, e defendem a de morte.  Existem ainda aqueles que afirmam que é a falta de exemplo das autoridades constituídas, o envolvimento em atos ilícitos, o descaso com a responsabilidade social e cidadã levam à impunidade. A deficiência na educação formal seria a motivadora desse comportamento segundo os educadores. Opiniões não faltam.
A única certeza que de fato temos é que se trata de um problema intrincado. Uma que solução depende de outra e assim consecutivamente. 
No entanto, observamos que as ações para solucionarmos qualquer questão que nos diz respeito são reflexos da nossa atitude frente aquilo que se apresenta, ou seja, um impulso que nos leva a tomarmos uma decisão em relação a momentos inesperados. Uma atitude.
Bater panelas, abraçar árvores, plantar cruzes nas praias, produzir mídias alternativas (cartazes, camisetas), promover cultos como alerta, passeatas momentâneas e efêmeras são atitudes louváveis embora de pouca ou quase nenhuma efetividade. 
Ocupar os espaços públicos talvez seja uma solução. 
Sair da passividade tranquila e confortável dos shoppings, (já ocupados pelos roles e assaltos a bijuterias) para andar de bicicleta ou a pé pelos parques e “passeios públicos”, se asseverando das condições e estado de conservação dos aparelhos urbanos da cidade. Se orientar e pegar um coletivo para conhecer as mazelas do tipo de transporte a serviço da população, dando uma volta nos bairros periféricos para avaliar as condições em que nossos colaboradores enfrentam para chegarem ao trabalho, ou a escola. Frequentar um posto público de saúde para entender a interação profissional-paciente. Levar os filhos aos jogos e competições esportivas ou ir à praia enfrentando as torcidas, a dificuldade do trânsito e do estacionamento. Sair para comer uma pizza em vez de encomendá-la, evitando colocar em risco a vida do entregador. Participar da vida escolar dos filhos, para conhecer suas relações sociais e seu comportamento com os colegas, como forma de se resguardar quanto ao bullying. Deixar ser refém do castelo eletrificado e da camionete blindada como se tais recursos pudessem nos proteger indefinidamente, e abrir o coração, afastar os preconceitos e discutir assertivamente os assuntos, já sinaliza uma atitude positiva.
Aqueles que ocupam os espaços sociais viram os donos ou como se assim fossem. Assim ocorre com o traficante no morro, as milícias nas regiões pobres, os sócios ativos frequentadores de clubes, em saunas, e quadras de esporte. Os políticos em seus redutos eleitorais, os pastores televisivos da madrugada, os “flanelinhas” nas portas de restaurantes, os camelôs nas calçadas, os ambulantes nas praças. Os todo-poderosos seguranças de bancos com a mão no coldre e olhar furtivo (que retiram clientes à força sem que o gerente venha em socorro), ou dos serviços públicos, patrimoniais, como os de saúde, em que ordenam filas, fazem triagem, definem os atendimentos, orientam de acordo com suas conveniências e os que se drogam sob suas vistas nos bancos das praças. Tudo isso é violência e tem que ter um fim.
Não basta ficar revoltado, afirmar que paga seus impostos (aqueles que de fato pagam) sem a contrapartida do Estado, não lhe garantindo a segurança e a saúde, como se o simples ato de pagar lhe daria um passaporte para seu exclusivo bem-estar. Somente ocupando os espaços é que teremos a real noção daquilo que nos pertence, a que fazemos jus, e como vamos protegê-lo.
Deixemos de ser prisioneiros de nós mesmos, do nosso conforto, pois nossa alma maior do que isso tudo não pode ser surpreendida por facadas!

Nenhum comentário:

Postar um comentário